A Cova dos Vermes Malditos
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Local: bairro pio XII.
Ano: 203X.
Essa noite fui visitar a minha vó, acabara de voltar do mercadinho, tudo estava normal, mas quando cheguei em sua casa, não havia ninguém, o chão tava cheio de poeira, as paredes também, como se a casa estivesse abandonada por anos, um barulho lá fora me trouxe de volta à realidade, larguei as sacolas no chão e voltei para fora, no momento que coloquei os pés para fora, adentrei um mundo igual ao nosso, mas... diferente.
Toda a rua se encontrava destruída, o céu esverdeado igual uma foto antiga que ficou muito tempo guardada perto de vinagre de azeitona, era um cenário de guerra. Das casas só restaram memórias do passado, não havia nenhuma em pé.
Crateras no asfalto, ainda fumegando uma fumaça negra. Apesar do pandemônio, era só silêncio.
Escombros e silêncio.
Até ser quebrado por barulhos viscosos e rosnados de goblins vindo da rua de baixo, que dava na chácara do pai de Jairo, criaturinhas se aglomeravam, subindo à rua.
Uma horda de vermes rastejadores do tamanho de poodles, tinham aparência de sanguessugas crustáceos, com carapaças cinzentas e bocas redondas cheias dentes sedentos, triturando o ar, em espiral.
Corri em disparada pela rua de cima, mais daqueles bichos me perseguiam, saindo das ruínas, pulando como pulgas.
Corria tanto que não sentia cansaço, eu talvez fosse uma máquina nesse mundo invertido sem saber.
Em poucas horas eu já subia a ladeira da Domingo Sávio, que não diferia do bairro de vovó em nada, exceto os bois, as vacas, cavalos e outros bichos, que aparentavam terem sofrido mutação, pois suas cabeças pendiam acima dos pescoços despedaçados por veias, suas bocas espumavam, grunhiam como doentes definhando no hospital, à espera do derradeiro suspiro.
Os olhos dos animais brilhavam.
A área rural da Domingo Sávio empalidecera, o outono chegou mais rápido.
Percorri o trajeto que fazia no tempo da escola, lágrimas de nostalgia escorreram, levadas pelo vento morno ofegante.
E depois de muito correr, eu finalmente alcancei o condomínio, peguei a terceira rua e cheguei em casa, entrei pela porta lateral, coloquei os tijolos de concreto embaixo da porta, não encontrei meus pais em casa, vasculhei toda minha casa, nem sinal deles.
Voltando para a frente da casa eu me deparei com um lobo alto e cinzento, com óculos de sol, apesar de ser noite, ele não parecia nem um pouco desesperado ou assustado com o desaparecimento súbito das pessoas na cidade:
— Aêê, mano, cê sabe onde eu tô?
— você está em Juazeiro do Norte.
— Hum... Nome peculiar, então é assim que essa cidade se chama.
— Quem é você?
— Ah... Eu... Me chamo Axel Rose! Entendeu? Por causa da flor.
E exibiu uma rosa no peito da sua jaqueta desabotoada, revelando o peitoral estufado com pêlos brancos, fiquei com borboletas no estômago.
Mas ignorei-as.
— O que você faz aqui, Axel?
— Sabe, mano? eu vim te ajudar a matar as hordas de vermes, pode confiar em mim!
Disse o licantropo, sorrindo para mim e apontando para o próprio focinho com o polegar, fazendo uma pose de JoJo.
Não demorou muito para os vermes chegarem em casa, houve um estrondo e um baque aterrador no portão e nas paredes do muro, os vermes estavam gritando lá na rua.
— mas antes, a gente vai ter que matar essas porras! Toma aqui!
Ele me deu uma arma, que eu não soube dizer se era uma pistola ou um machado, era estranho. Mas veio à calhar.
Quando eu usei a arma, parecia que o Venom se apossou de mim, eu me transformei numa massa amorfa e simbiótica (um monstro, melhor dizendo) e estraçalhei os vermes malditos, um por um, em segundos, o lobo apenas disparava balas de sua arma laser nos bichos enquanto posava para câmeras e uma platéia imaginária, como se fosse um ator de Hollywood, sorrindo com seus dentões tão brancos que pareciam dentaduras.
Quando me dei conta, minha casa parecia um coliseu, não haviam mais paredes nos lados, apenas o muro da frente e o portão desabado e pilhas daqueles vermes mortos, tudo sujo de sangue negro como enxofre.
A escuridão noturna engolia os postes, as luzes teimavam em iluminar uma noite que não desejava ser iluminada.
— ;3 é isso aí mano, parece que esses foram os últimos!
— sim, conseguimos!
— ei, olhe!
Ele apontou para algo atrás de mim.
Porra, tínhamos comemorado antes da hora, ainda tinha outro, dessa vez era uma criatura humanóide, pálida e toda torta, no lugar do rosto tinha um buraco espiralado de presas amareladas a riscarem-se nas outras, produzia uma orquestra de chocalhos tribais feitos de ossos, as gengivas podres escorriam uma baba nojenta que esfumaçava no chão e tinha um fedor de mil lâmpadas cheias de merda queimadas pela eletricidade.
O Demogorgon se requebrava ao caminhar, os ossos estalavam, se deslocando (supunheto).
— Rápido, Hugo, Pega ele!
O lobo gritou para mim, mas nem precisava desse incentivo, já estava em cima dele, meus braços transmutaram-se em negras biocorrentes pingando o material simbionte, dando um mata-leão no pescoço dele, a placidez da pele era como a de um casulo de borboleta.
A coisa rosnava, agarrando as correntes, puxando-as, batia com as costas nas paredes, meu busto estremecia como um tambor tribal.
Mas no final deu tudo errado, a criatura era mais forte que um urso após ser acordado de sua hibernação no meio do inverno por um funkeiro com uma JBL no talo às quatro da manhã.
Ele cravou suas garras retorcidas nos meus braços, ardeu pra caralho, rasgou a roupagem simbiôntica deixando um rastro de sangue esguichar, se desvencilhou, me arremessando na calçada de um metro na frente da minha casa, alguma coisa nas minhas costas estalaram com o baque.
Engatinhei no chão, com uma dor indescritível nas costas e uma sensação de ácido borbulhando na cabeça, vertigem...
Ergui a cabeça e vi o monstro correndo pra cima de mim, triplicado pela minha visão turva, mas o lobo me salvou quebrando um tijolo de concreto na nuca dele, o monstro se virou para ele e, de repente, sua cabeça desabrochou numa hortênsia visceral, as pétalas de carne abriam e fechavam seus dentes finos, derramando um néctar de porra (porque era branco translúcido igual gozo), e tufos de... Algodão(?) foram vomitados pelas pétalas.
"Merda", disse o lobo, que até então não havia demonstrado nenhum tipo de surpresa.
Não consegui ver o que ele tirou do bolso da sua jaqueta jeans, estava longe demais, ele acendeu alguma coisa na sua pata, era uma chama rosada, e berrou.
"Por aqui, desgraça de The Last of Us! Pode comer meu brioco, eu deixo!".
E a criatura o seguiu para fora da minha casa.
— Es... Esp-era!-
Desmaiei ali mesmo.
Quando eu acordei, a noite estava alta, o céu noturno estrelado como o quadro "Noite Estrelada" de Van Gogh, estava meio zonzo e então vi que toda a casa estava restaurada, como se nada tivesse acontecido.
Mas quando eu subi as escadas e entrei em casa, fui direto ao quarto dos meus pais, mas eles ainda não lá.

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